Vamos separar o joio do trigo. Se você não aguenta filmes parados, esqueça Anomalisa. Por outro lado, se você tiver paciência e uma boa cabeça, não deveria perder este filmaço do Charlie Kaufman.
Michel Stone é um famoso palestrante motivacional que ensina as pessoas a se comunicarem melhor com os consumidores. Ironicamente Michael é incapaz de se conectar emocionalmente com o mundo. Nosso protagonista é um cara deprimido e cansado de tudo. Para ele, todas as pessoas são peças iguais, superficiais, imbecilizantes e tediosas.
Até o momento em que Michael ouve nos corredores do hotel o belo tom da voz de Lisa, e se convence que está apaixonado.
Essa sinopse pode parecer o de uma historia de amor banal. Mas o filme é de animação. Tudo acontece com bonecos. E o diretor se utiliza dessa ferramenta para introduzir o sentimento do Michael sobre a mesmice e o desinteresse pelas pessoas ao seu redor (incluída a mulher, uma ex amante, seus amigos, e até seu filho) de forma brilhante.
Já vou advertindo que o filme incomoda. No início você vai achar que é pelo ritmo propositalmente lento. Muito lento! Também pode parecer estranho ver bonecos fazendo sexo explícito (vale a pena prestar atenção na cena e nos tempos do orgasmo de Michael). Mas o que realmente incomoda é assistir a nós mesmos na telona.
Em tempo quase real o filme mostra o cotidiano da vida empresarial, aonde as cidades, os aeroportos, os taxistas, e os quartos de hotéis se tornam tão banais, fechados, e desinteressantes quanto o ritmo das cenas de Kaufman. Anomalisa trata sobre a sociedade, ou seja, sobre nos mesmos. E utiliza bonecos como instrumentos para nos dar um soco direto no estômago.
Apenas uma dica: fique atento aos rostos e as vozes dos bonecos. Dizer mais do que isso seria desconfiar da sua inteligência para tirar suas próprias conclusões no final da sessão. Alias, este é um daqueles filmes que se aprecia mais pelo que nos deixa pipocando na cabeça, que pelo prazer da pipoca dentro do cinema.
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