A tradução literal de “rolling stones” seria pedras rolantes. Mas outros significados mais místicos foram atribuídos à banda através dos anos. O mais justo parece ser aquele que compara as pedras rolantes com pessoas que rodam pelo mundo e se deixam levar pela própria inércia, sem se importar muito aonde vão parar.
Confesso que fui ao show dos Rollings sem muita expectativa. Nunca fui fã da banda. Mas minha esposa me arrastou até o estádio. Aí esperamos àquelas horas prévias de sempre. Para piorar, alguns minutos antes da hora marcada para o início do show começou a chover forte.
Com pontualidade inglesa as luzes se apagaram. E finalmente apareceram os Rollings no palco …
Nesse momento alguma coisa realmente mágica aconteceu. Difícil de explicar, mas vou tentar.
A primeira coisa que contagia num show dos Rollings é ver pessoas acima de 50 anos – muitos deles acompanhados por seus filhos – curtindo puro rock & roll.
Segundo, assistir ao show dos Rollings pode ser comparado com uma relação sexual. Se você se entregar e deixar rolar, vai curtir pra caramba. Mesmo não sendo um fã da banda você vai se surpreender cantarolando a maior parte da playlist do grupo.
Terceiro, os caras sabem o que fazem. Isto é, a qualidade dos músicos e do show é inegável. Você vai presenciar um dos melhores espetáculos em termos de técnica de som, imagem e organização.
Esses três pontos já pagariam o ingresso. Mas existe um quarto elemento pelo qual admiramos tanto aos Rollings Stones. Um elemento muito mais interessante e raro: a gente quer ser um Rolling Stone !!!
Eu percebi o que significa ser um Rolling Stone quando Keith Richards tirou o cigarro do traste da guitarra e literalmente fumou para a galera. Quando o lendário guitarrista apareceu em primeira plana tragando a fumaça no telão, o estádio veio abaixo. As pessoas comemoraram como se fosse um gol da seleção na final da copa do mundo. Foi um delírio absoluto!
O que isso quer dizer? Muita coisa.
Ora, a gente sai desse show com a esperança de mandar os médicos e as receitas da longevidade a passear. A gente olha para esses caras no palco e pensa: ou fizeram um pacto com o diabo, ou foram abduzidos por alienígenas ao melhor estilo Cocoon. Não existe explicação racional.
Assistir ao Mick Jagger com 72 anos se divertindo, cantando e dançando maravilhosamente embaixo da chuva por duas horas ininterruptas é uma verdadeira luz no fim do túnel. É testemunhar o triunfo do sexo, das drogas e do rock & roll sobre todas as angústias e culpas com as quais sistematicamente nos atormentam nestes dias (leia se: academia, medicina preventiva, alimentação saudável, etc).
É sabido que o Mick, Keith e cia viveram (ainda vivem?) no limite. Segundo a cartilha, esses caras deveriam ter passado para outra faz muito tempo. Dai que o show dos Rollings não é apenas um show. Trata-se de uma experiência quase religiosa. É um culto ao to pouco me lixando com o politicamente correto!. É uma celebração à vida vivida sem amarras nem receitas chatas e angustiantes. Ser um Rolling Stone é dar um chute no traseiro ao medo de morrer e se entregar definitivamente os prazeres da vida sem culpas e com muita satisfaction!
Foto: ZH/Clic RBS
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